Por uma educação antirrevolucionária

Isaias Lobão Pereira Júnior

"As opiniões apresentadas neste artigo não refletem necessariamente as posições defendidas pelos Docentes pela Liberdade sobre os temas abordados". Isaias Lobão Pereira Júnior (01/08/2020)*

Dizem que toda unanimidade é burra. No entanto, existe um conceito que todos concordam, o sistema educacional brasileiro é péssimo, caro e ineficiente. Todos os governos prometeram melhorar a educação, entretanto, pouco se avançou. Dos últimos governos, os piores índices estão na conta do PT.

Pesquisa, feita com base nas edições da Prova Brasil, apontou que o número de jovens pobres matriculados no ensino médio era de apenas 39%. Dados do IBGE afirmam 56,1% dos brasileiros, com idade entre 25 e 64 anos, não completaram o ensino médio. Existem 11,3 milhões de pessoas com mais de 15 anos analfabetos, ou seja, 6,8% da população. Em suma, dados oficiais revelam o péssimo desempenho da educação de base brasileira.

Arrisco-me a dizer que os péssimos resultados de nosso sistema de ensino devem-se ao movimento devastador que se infiltrou na educação, o pensamento revolucionário junto com seu derivado, o marxismo.

Como afirma Mateus Menezes: (Por uma educação mais conservadora)

Infelizmente, a esquerda conseguiu destruir nossa educação. Retiraram a autoridade e desvalorizaram a boa figura que o docente tinha no passado. A violência escolar domina a maior parte dos colégios brasileiros. Os docentes são obrigados pelo sistema educacional marxista a conviver com a cultura da impunidade dos alunos portadores de graves transtornos de conduta, que não deviam frequentar a rede regular de ensino.

Portanto, podemos afirmar que o moderno sistema de ensino é uma das manifestações do pensamento revolucionário. Ele pode ser visto como uma das estratégias de um amplo projeto que busca a construção de uma nova sociedade fundada no discurso da igualdade política, econômica e social.

O objetivo central da educação seria formar um cidadão com consciência crítica, leia-se, revolucionária. “Quanto mais o homem refletir sobre a realidade, sobre a sua situação concreta, mais emerge plenamente consciente, comprometido, pronto a intervir na realidade para mudá-la.” (FREIRE, 1980: 25).

Cada passo dado em direção ao ideal revolucionário, a sociedade recebia em troca, a indisciplina dos estudantes, a desintegração da autoridade do professor, o solapamento de instituições, como a família, a igreja e a própria individualidade; junto com o abandono das consagradas práticas pedagógicas que formaram o mundo como conhecemos.

O pensamento revolucionário é, em essência, coletivista. Uma notável característica que vemos na defesa intransigente do ensino escolar compulsório como panaceia aos péssimos resultados da educação brasileira.

Não se ouve entre os revolucionários alternativa ao status quo. Eles reagiram bem ao aumento de recursos do Fundeb, fizeram críticas pontuais ao engessamento proposto pela BNCC, reforçam o papel social da escola, como único centro de propagação do conhecimento e do saber, retirando das famílias o direito de optar por novas alternativas.

Por sua vez, os defensores da educação clássica ou antirrevolucionária (incluo aqui conservadores, liberais e libertários) são ardorosos defensores e propagandistas do ensino domiciliar, de alternativas ao monopólio do MEC na certificação de escolas e professores; além propor alternativas de financiamento para a educação dos mais pobres como a poupança educacional, as escolas Charter e o Voucher.

Além de tudo isso, alguns conservadores são extremamente contrários ao ensino compulsório. A premissa que rege esta postura é a crença que os indivíduos precisam agir de forma responsável e arcar com as consequências de suas escolhas.

Outra premissa da educação revolucionária é o progressismo. Visto como se fosse uma escada rolante interminável, surge com a proposta de construir um ser humano autônomo, governado pela Razão e pela Ciência.

Firmando-se na antropologia ingênua de Rosseau (bondade inerente do homem), na perspectiva de transformação social de Marx (luta de classes e estabelecimento da ditadura do proletariado), no socioconstrutivismo de Piaget e Vygotsky (ensinar não é transferir conhecimento) e na pedagogia de Paulo Freire (obrigação do educador transmitir seus posicionamentos e valores políticos na educação), a educação revolucionária confia que uma nova sociedade irá emergir por meio da escola.

A este respeito, (ZAMBONI, 2016:29):

A educação moderna tendeu cada vez mais nesta direção, apostando num projeto insensato. Seus mentores perverteram o sentido da educação, apresentando, em seu lugar, uma caricatura. Não havia sido uma grande ideia, mas apenas uma ideia presunçosa. Quanto mais empenho houve na tentativa de realizar essa impossibilidade, mais as contradições e perplexidades se tornaram evidentes. O fracasso do sistema educacional é consequência de uma aspiração imoral e de uma concepção limitada do ser humano.

Portanto, temos diante de nós, a inadiável tarefa de (re)construir uma educação antirrevolucionária. Resgatar o grande patrimônio educacional da civilização ocidental, sintetizada nas artes liberais (o trivium: gramática, retórica e dialética, e o quatrivium: aritmética, geometria, astronomia e música) e valorizar o cultivo das virtudes e sabedoria da alma.

Desafiando os grilhões pragmáticos da educação moderna, ávida pelo que é popular, corrente, em vez do que é necessário para ensinar e aprender, o teólogo James Packer, falando sobre educação cristã, apresenta um princípio que pode ser aplicado em nosso debate. Ele diz que precisamos “olhar para trás a fim de ir em frente”.

Referências Bibliográficas:

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. 3. ed. São Paulo: Moraes, 1980.

NASCIMENTO, Mateus Menezes do. Por uma educação mais conservadora. Instituto Liberal. Disponível em:https://www.institutoliberal.org.br/blog/economia/por-uma-educacao-mais-conservadora/

ZAMBONI, F. Contra a escola: ensaios sobre literatura, ensino e educação liberal. Campinas: Vide Editorial, 2016.

* Professor de história no Instituto Federal do Tocantins. Pesquisador do GP-GIM, Grupo de Pesquisa em Gestão, Inovação e Mercados do Instituto Federal de Goiás. Mestre em teologia pela Faculdade EST. Bacharel e Licenciado em História pela Universidade de Brasília. Membro da World Reformed Felowship e da Society of Biblical Literature. (www.isaiaslobao.com.br).


Fonte: Por uma educação antirrevolucionária - DPL - Docentes Pela Liberdade